Desejos clandestinos.

De quando a gente começa a aprender sobre a vida.

-Parabéns Maria Eduarda, você tomou a mamadeira toda, você é uma estrelinha.

-Eu não sou uma estrelinha, você me disse que o vovô virou estrelinha, e eu não quero ficar no céu que nem ele.

-Não, amor, é jeito de falar.

-Porque o vovô virou estrelinha?

-Porque ele não tá mais aqui com a gente

-Ah... Ele viajou pra longe que nem quando a mamãe foi pra Brasilia?

-Não amor, ele foi pra bem longe, lá pra perto do papai do céu.

-Ele fica na igreja então?

-Deixa eu te explicar... Quando a pessoa vai ficar com papai do céu, a gente fala que essa pessoa morreu, sabe?

- O vovô morreu?

-morreu.

(alguns minutos em silêncio)

-Eu não quero morrer.

-Pois é Duda, eu tambem não.

-Você vai morrer?

-Vou, um dia... Eu, mamãe, papai, todo mundo.

-Eu vou ficar sozinha, nao me deixa sozinha.

-Ah não Duda, não acredito que está chorando... Calma, isso vai demorar muito.

-Você vai morrer amanhã?

-Vamos parar de falar sobre isso? Não, eu não vou, quer dizer, sei lá... Você pergunta cada coisa!

-Eu te amo.

-Eu tambem, agora reze, e durma.

-Eu não quero rezar.

-Ó, mas porque?

-Porque o vovô rezava todo dia, e ele morreu.

-Então não reze e durma, boa noite, meu anjo.

-O que é um anjo?

-Ah, amanhã eu te explico. Boa noite, te amo.