quarta-feira, 25 de novembro de 2009

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"Amor, então,também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."
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Paulo Leminski

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Foi numa dessas manhãs sem sol que percebi o quanto já estava dentro do que não suspeitava. E a tal ponto que tive a certeza súbita que não conseguiria mais sair. Não sabia até que ponto isso seria bom ou mau — mas de qualquer forma não conseguia definir o que se fez quando comecei a perceber as lembranças espatifadas pelo quarto. Não que houvesse fotografias ou qualquer coisa de muito concreto — certamente havia o concreto em algumas roupas, uma escova de dentes, alguns discos, um livro: as miudezas se amontoavam pelos cantos. Mas o que marcava e pesava mais era o intangível.
Lembro que naquela manhã abri os olhos de repente para um teto claro e minha mão tocou um espaço vazio a meu lado sobre a cama, e não encontrando procurou um cigarro no maço sobre a mesa e virou o despertador de frente para a parede e depois buscou um fósforo e uma chama e fumei fumei fumei: os olhos fixos naquele teto claro. Chovia e os jornais alardeavam enchentes. Os carros eram carregados pelas águas, os ônibus caíam das pontes e nas praias o mar explodia alto respingando pessoas amedrontadas. A minha mão direita conduzia espaçadamente um cigarro até minha boca: minha boca sugava uma fumaça áspera para dentro dos pulmões escurecidos: meus pulmões escurecidos lançavam pela boca e pelas narinas um fio de fumaça em direção ao teto claro onde meus olhos permaneciam fixos. E minha mão esquerda tocava uma ausência sobre a cama.
Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.
Não conseguia compreender como conseguira penetrar naquilo sem ter consciência e sem o menor policiamento: eu, que confiava nos meus processos, e que dizia sempre saber de tudo quanto fazia ou dizia. A vida era lenta e eu podia comandá-la. Essa crença fácil tinha me alimentado até o momento em que, deitado ali, no meio da manhã sem sol, olhos fixos no teto claro, suportava um cigarro na mão direita e uma ausência na mão esquerda. Seria sem sentido chorar, então chorei enquanto a chuva caía porque estava tão sozinho que o melhor a ser feito era qualquer coisa sem sentido. Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram. Então fui penetrando de leve numa região esverdeada em direção a qualquer coisa como uma lembrança depois da qual não haveria depois. Era talvez uma coisa tão antiga e tão humana quanto qualquer outra, mas não tentei defini-la. Deixei que o verde se espalhasse e os olhos quase fechados e os ouvidos separassem do som dos pingos da chuva batendo sobre os telhados de zinco uma voz que crescia numa história contada devagar como se eu ainda fosse menino e ainda houvesse tias solteironas pelos corredores contando histórias em dias de chuva e sonhos fritos em açúcar e canela e manteiga."
Iniciação/parte 1- Caio Fernando Abreu

domingo, 27 de setembro de 2009


Assim, enfim.

Não era amor, não chegou a isso tudo, mas talvez se fosse amor não sofreria tanto, era uma paixão que doía muito, a sufocava e deixava completamente sem rumo.
"Calma coração, controle-se" repetia para si sucessivamente. Pela primeira vez estava estranhando seu comportamento, logo ela, que sempre mostrou tanto equilíbrio e certeza de si. Tinha uma sede que não conseguia saciar, uma vontade incontrolável de ver, tocar, sentir. Não bastavam palavras doces e nem carinhos momentâneos, não conseguia mais ter o controle das situações (e como odiava perder o controle).
Sentia um peso na alma, era como se algo estivesse guardado, preso a muito tempo e quisesse sair e se mostrar para o mundo inteiro. Mas não se tratava disso, tudo aquilo que passava era muito recente, mas aparentemente tão grande. E como as aparências enganam.
Na verdade ela tinha medo, era como se na sua vida toda tivesse tomado cuidado para não se entregar demais, talvez não se aventurando tanto, sofreria menos, e a possibilidade de todo esse sentimentalismo se expandir deixava Ana cada vez mais incomodada.
É que ela tinha a mania de esperar demais em vão, sabia que nada aconteceria, mas essa utopia de que tudo-vai-dar-certo insistia em habitar a sua alma.
A incerteza dos fatos agora a frustava, agora sim sabia o que não era dormir bem por pensar em alguem.

sábado, 4 de julho de 2009

O que não se pode entender.

Era a terceira dose de vodka que Ana tomava, estava deitada no sofá, com seu lenço de estampa indiana, que tinha comprado na sua ultima viagem.
Não esperava mais nada para aquela noite, aliás, esperava sim, esperava ouvir até a ultima musica do CD dos Los Hermanos, e aquilo já servia de contenção para dormir tranquilamente.
O relógio marcava 23:00, o som dos ponteiros não a incomodava mais, era um daqueles relógios antigos que se herda dos avós, ou bisavós. Ao lado do relógio estava o calendário, dia 12 de Junho.
Antes ligava para as datas, sofria por não poder comemorá-las, mas naquele dia não, não estava triste, porém sentiu-se só. Será que aquela garrafa de vodka barata seria sua única companhia?

Meia noite:
Cansou do ócio.
Resolveu sair de casa, sem expectativas.
Andou sem uma direção concreta.
Escutou músicas em um bar com portas semi fechadas.
Resolveu entrar mesmo assim.

Uma hora da manhã:
Ana estava em lugar estranho, com um copo de cerveja na mão e com um rapaz maravilhoso que mal conhecia, ele a acariciava expetacularmente bem.

Duas horas da manhã:
Entraram em um carro, ela no banco de trás, ele dirigindo.
mesmo achando o comportamento do homem estranho, hesitou em falar algo.
O que aconteceu depois disso, pouco se sabe.

Dia seguinte:
Acorda em casa.
Ressaca tremenda.

Uma mensagem pregada na geladeira:
" Bom dia.
Espero repetir tudo quando eu voltar de São Paulo.
Estou atrasado.
Beijos, do seu querido"

Ficou sem entender o que seria o "tudo" e quem seria o "seu querido".
Belo dia dos namorados.

terça-feira, 26 de maio de 2009

"Minha boneca"- (25/05/09)


Só sabemos o que é a dor, quando passamos por uma grande perca.Ainda consigo sentir sua pele, seu rosto, a textura das suas roupas, seu cheirinho.Não, a ficha não caiu ainda. Parece que ainda tenho a certeza que vou poder te abraçar mais uma vez, fazer aqueles mimos e escutar você me chamar de "minha boneca".É nessas horas que começamos a lembrar de cada momento, dos abraços apertados e o carinho extremo que você tinha por mim, começo a perceber as falhas que cometi contigo e o porque de não ter dito um "eu te amo".


As lembranças vão passando aceleradamente na minha mente, queria lembrar de cada detalhe, de cada gesto, de cada sorriso seu, mas não consigo lembrar de tudo e fico extremamente angustiada com isso.Só tenho a agradecer por ter te conhecido, o amor que tenho por você permanecerá intacto, esse sentimento já está enraizado e jamaiz sairá de mim.Dizer que foi melhor assim, não alivia minha dor, o conformismo talvez seja a unica solução.O fim só é belo qundo é colocado no final de historinhas de contos de fadas.



"...Quem sabe o que é ter e perder alguém
Sente a dor que senti
Quem sabe o que é ver quem se quer partir
E não ter pra onde ir
Faz tanta falta o teu amor..."
"Privilégio do mar
Carlos Drummond de Andrade

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja."

Ironia admirável.
A verdade não é tão fácil, meu bem.

Até os seus 14 anos, Ana achava a vida tão doce, talvez seja porque ela se contentava com pouco, ou talvez porque não exigia tanto de si, como exige agora.Poucos dias antes de completar seus 15 anos, olhou atentamente as estrelas ( ela já não as via ha muito tempo) e percebeu que uma daquelas estrelas, a menor delas, parecia lutar para continuar esplendidamente bela, mas não conseguia ser tão exuberante como as outras estrelas maiores que a rodeavam.Parecia que ela queria mostrar para todos a sua existência, e que era digna de ser cortejada por admiradores que para lá olhavam, de receber pedidos para quem sabe poder realizar-los, pedidos que eram feitos apenas para as estrelas maiores, que dizem ser a estrelas da sorte.O que ela seria? só mais uma estrela sem graça,sem sorte, e com pouca luz, assim como tantas outras que por aí existem? Ou será que a sua hora de brilhar ainda viria, que ela não era como as outras, e que um dia seria tão grande e tão bela a chegar ao ponto de ser invejada?Parecia que a primeira opção era mais provável, a segunda não passava de uma utopia.Depois de muito observar, Ana deitou-se, e um vazio profundo a atingiu, parecia que ela tinha visto sua histórias sob o céu, parece que ela realmente tinha caído na real, e pode ter certeza que isso não foi fácil para ela, talvez tinha sido melhor se ela continuasse pensando que ela era a lua, e não a pequena estrela. (Março 2009)


Anima aí, outro ano que chegou!



É como se nos dissessem " Olha só filhinha o próximo ano que vem ai ! Esqueça todos aqueles seus antigos problemas, tudo acabou... é um novo ano!". Que ilusão, tudo é somente uma troca de calendários, é tudo uma continuidade.Não sei o porque, mas 2009 chegou de um jeito diferente pra mim, chegou meio que as escondidas, quase não querendo vim, mas assim que veio já transformou minha vida e a virou do avesso, não sei se foi o calor das emoçoes de fim de ano, ou apenas a minha incontrolável mania de agir impulsivamente! Acho que é os dois... O meu lado social tá batendo mais forte, vi que por mim já não posso fazer tanta coisa assim, não que eu seja um caso perdido, longe disso, mas há tanta coisa além do que meu proprio umbigo.Meu sentimentalismo anda se perdendo por aí, não sou mais aquela menina que lamenta o proprio existencialismo, sou digna de respeito rapaz !(todos nós somos).A minha auto confiança anda bem obrigada, e olha que nem precisei de terapia e isso já é um enorme avaço pra mim. O vazio ainda me habita, ele já está há tanto tempo dentro de mim que já me acostumei e até gosto de cultiva-lo, mas não é um vazio de sentir-me só e sim um vazio que precisa constantemente ser preenchido com carinhos, sorrisos, amizades e paixoes momentâneas.Não importo mais com meu futuro proximo e nem tento planejar minhas coisas, é tão bobagem quanto dizer um eu te amo esperando um " eu tambem ", me poupe.Olho a vida agora de cabeça erguida, sem medo de me sentir tão pequena diante o mundo que me cerca e diante as pessoas tambem.Tudo anda bem confortavel, bastante cômodo e há se ser assim até que a minha paciência e minha estima estaja alta e até que um bem maior me acorde para a vida. Enquanto isso? vou esperar sentada, pois a demora não será pouca.
(Janeiro de 2009)


"...Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem. Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela... Um dia nós percebemos que as mulheres têm instinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer ... Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável... Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples... Um dia percebemos que o comum não nos atrai...Um dia saberemos que ser classificado como "bonzinho" não é bom... Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você... Um dia saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..." Um dia percebemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso... Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas ai já é tarde demais... Enfim... Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o que tem de ser dito... O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação."
Mário Quintana.
20 dias após.

Passou-se um tempo e toda aquela melancolia foi embora, hoje só restou um pouco de saudades, não há maneiras de negar um passado tão próximo.
Passar do lado e não olhar mais nos seus olhos já virou uma rotina(esses olhos que sempre me intimidam de alguma forma).
Não é mais um incomodo estar nessa situação, me sinto até mais confortável, sabia?O tempo vai passando e a ficha começa a cair, é inevitável, e a percepção que nem tudo na vida volta, se torna mais presente.A gente aprende a lidar com as perdas desde de cedo, meu bem, e isso se torna tão natural.
Pare de fazer drama, esse tipo de coisa não me atrai, se espera uma atitude minha, espera em vão.
Pra mim, está tudo muito bem !
(Novembro de 2008)
Primeiro dia.



Para quem sempre procurou uma vida alheia para inspira-se, para quem sempre buscou os caminhos ostentosos e estreitos, sentir o sentimento dói mais do que qualquer implicidade, pois quando tudo é tratado na superficialidade fica mais fácil, o apego se torna aparente, no pensamento o sentimento não é algo presente e o adeus torna-se um até logo. Por favor não me valorize tanto, não sou do tipo de pessoa que que chorará por sua partida(mas quando chegar, comunica-me, talvez faça mais uma das minha cenas ridículas de saudades). Não ter certeza do que sente é constrangedor, talvez seja cedo demais para falar de amor.Poupa-me de suas palavras sinceras, quero verdadeiras mentiras que me iludirão , me confortarão.. Talvez minha vontade por seus beijos seja apenas um desejo momentâneo de não me sentir só. Vamos lá, não é fácil dizer o que há! Se os olhos não vêm o coração não sente, então o porque dessa repulsa? Dizer que viver só é bom é apenas um refugio para o meu destino e será que é esse mesmo o meu destino? Olha só, perceba como já não me arrepio mais ao te ver, como suas palavras já não me tocam mais! cada pulso, cada impulso meu é tão leviano.. Agora, só me abrace como bons amigos!
(Outubro de 2008)